terça-feira, 22 de dezembro de 2015

HÁ 73 ANOS, NOSSO CLUBE PRESENTEAVA À NAÇÃO O AVIÃO VASCO DA GAMA



Sozinho, o Club de Regatas Vasco da Gama promoveu sua própria campanha no esforço de Defesa Nacional em tempos de Guerra!


Batismo do Avião Vasco da Gama, pelo paraninfo da cerimônia,
Joaquim Fagundes Leal, a 10 de dezembro de 1942

   A história é conhecida de todos! Após o oferecimento de um poderoso telescópio pelo saudoso Joaquim Pereira Ramos à Marinha Brasileira, e da participação vascaína na campanha do pró-avião Pax, Cyro Aranha começou uma empreitada exclusivamente vascaína para a doação de um avião às nossas Forças Armadas. Seria o Avião Vasco da Gama.

   Para isso criou-se a comissão da qual participaram o Professor Castro Filho, Eurico Serzedelo, Rufino Ferreira, Arthur da Fonseca Soares (Cordinha), Lauro da Costa Rebelo, Bernadino Buentes, José Teixeira, Moacyr Siqueira Queiroz, José Ribeiro de Paiva (Almirante) e João Lamosa.

   Presidiu a comissão o "Almirante" que contando ainda com a ajuda dos grandes vascaínos "Cordinha" e Lamosa, providenciaram a confecção de distintivos de lapela com a inscrição "Avião Vasco da Gama", ofertada aos contribuintes. Ao cabo de 20 dias a meta da arrecadação já havia sido ultrapassada.

Distintivo da campanha pró-avião Vasco da Gama

   A cerimônia de entrega do avião à FAB foi realizada no estádio São Januário, a 10 de dezembro de 1942, na preliminar da final do campeonato brasileiro de seleções, disputada entre o Distrito Federal e São Paulo.

  Participaram do evento de entrega o dr. Pedro Calmon, que por designação do Ministro da Aeronáutica, recebeu a doação em favor do Aeroclube de Salvador-BA para a instrução de novos pilotos, bem como do paraninfo e vascaíno de longa data, Joaquim Fagundes Leal que batizou a aeronave.

   José da Silva Rocha (Rochinha), ex-presidente e emérito historiador vascaíno, deixou registrado em artigo publicado no jornal A Noite, o relato emocionado do Professor Castro Filho acerca desse precioso evento:

   "Eu me sentia desligado daquela praça verde, palco de lutas desportivas gigantescas. O meu pensamento vagueava por outras paragens: o campo de lutas sangrentas e irreparáveis em que, naquela hora, por certo, preliavam, como heróis, muitos dos nossos atletas, tantos dos moços que ali receberam as primeiras lições de coragem e de civismo. O meu olhar turvado de lágrimas, estava preso aos graciosos movimentos do Pavilhão Nacional do grande mastro. Parecia-me ver nesse ondular de verde e ouro o aceno protetor e amigo do reconhecimento; eu via a Bandeira do Brasil a acenar para todos, como se lhes dissesse comovida: - Obrigada, Vasco, muito obrigada vascaínos; Deus vos conserve esse grande, esse imenso coração!"


*Texto e fotos: Equipe do Centro de Memória do Club de Regatas Vasco da Gama
** O avião doado pelo clube era um L-4H-PI Piper Grasshoper. Atualmente o Museu da Aeronáutica possui um modelo igual ao doado pelo Vasco que vemos na foto abaixo, de autoria de Alexandre Galante para o site Poder Aéreo:

L-4H-PI Piper Grasshoper - o mesmo modelo
 doado pelo C. R. Vasco da Gama em 1942


 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

HÁ 110 ANOS, O VASCO TORNAVA-SE CAMPEÃO DE MAR NAS ÁGUAS DA GUANABARA



Clube foi o primeiro campeão na inauguração do Pavilhão de Regatas



   Hoje, 24 de setembro, comemoramos a conquista do primeiro título do Club de Regatas Vasco da Gama, o Campeonato do Rio de Janeiro. Passados 110 anos desse glorioso feito, vamos contar um pouco da trajetória do clube em suas sedes no Largo do Passeio, postas abaixo para as obras de urbanização do então prefeito Pereira Passos, o Grupo dos XIII, a aquisição da Procelária, o retorno de João Jório ao clube, e a conquista inédita no dia da inauguração do famoso Pavilhão de Regatas na enseada de Botafogo.


As sedes do Vasco no Largo do Passeio, atual Praça Mahatma Gandhi




   Após sair da sua sede na Ilha das Moças, por decisão dos seus sócios, o Vasco trilhou o caminho do crescimento ao alugar, em julho de 1899, sua sede de frente para o mar junto ao Passeio Público. Era localizada na então Travessa do Maia, n.º 15, ao lado dos demais centros náuticos. A Garagem que se tornaria sua sede ao longo de seis anos era construída sobre um muro de cantaria de pedras, possuindo amplo espaço, um torreão e um mastro militar, de onde se desfraldava o pavilhão vascaíno. Ali o clube aumentou tremendamente seu quadro social e sua flotilha, o que ajudaria a galgar as vitórias a que estava destinado.

   Tal crescimento fez com que o clube alugasse mais dois prédios, um defronte à própria sede na Travessa do Maia, n.º 10A e outro na Rua do Passeio n.º 13, que após as obras de 1904 foram interligados num único imóvel com duas frentes, onde foram instaladas a secretaria, garagem, vestiário, aula de ginástica, linha de tiro. Em sua sede passou a funcionar somente o salão social para a reunião dos sócios e o chá das sextas-feiras.

   Com o bota-abaixo promovido pela prefeitura do então Distrito Federal, toda a área do Largo do Passeio foi demolida. Em setembro de 1905, o Vasco foi provisoriamente instalado pela prefeitura na Rua Luiz de Vasconcellos, n.º 14, até sua transferência definitiva para a histórica sede da Rua Santa Luzia, em 1906.

   Portanto, o Vasco trilhou para a glória instalado defronte ao mar, no Passeio.


O Grupo dos XIII

  Na sua histórica trajetória, contou o Vasco com a colaboração de um grupo de sócios que atuou de forma crucial para o engrandecimento do clube. Era o Grupo dos XIII, de onde despontava o seu presidente negro, eleito pelo quadro social, Candido José de Araujo; os irmãos Carvalho Silva; Anibal Peixoto; dentre outros. Foram esses sócios pioneiros que, na ausência do seu presidente honorário Alberto Carvalho Silva, determinaram os caminhos de glória do Vasco.




A Procelária

   O grupo dos XIII e o quadro social já estavam decididos a conquistar o maior título do remo brasileiro. Para tanto, precisava adquirir uma yole de primeira linha, encomendada em fevereiro de 1905, foi fabricada na França pelo estalaleiro Dossumet, ao custo de Fr 4.028,20 (quatro mil e vinte e oito francos e vinte cents). Chegou ao Brasil pelas mãos de Alberto Carvalho Silva, no mesmo navio em que retornou da Europa. Não se mediu esforços para a sua aquisição e seu nome já havia sido escolhido. O termo Procelária, (Procellaria, na grafia de 1905) designa as aves que singram a crista das ondas e anunciam as tempestades. Deste modo, o Vasco com o Grupo dos XIII se tornou um clube vencedor!


Praia do Boqueirão do Passeio - 1906
Revista da Semana (Acervo Biblioteca Nacional)


O retorno de João Jório

   Ao iniciar os treinos da temporada, a guarnição de veteranos ainda não estava definitivamente formada. Faltava um remador em especial: João Jório. O Grupo dos XIII não mediu esforços para convencê-lo a voltar ao Vasco em abril de 1905. Assim anunciaram os jornais da época!


João Jório envergando o uniforme
da Federação Brazileira das Sociedades de Remo


O Campeonato Rio de Janeiro

   O Campeonato do Rio de Janeiro era o páreo de honra que a Federação Brazileira das Sociedades de Remo designou para a conquista do grande título do ano. Era disputado em prova única pelas guarnições das yoles-franches a oito remos dos diversos clubes náuticos. Quem contasse com a melhor guarnição receberia a medalha de ouro da mão do Presidente da República, na época, Rodrigues Alves, e o clube seria dono dos dois troféus da maior prova do remo brasileiro: o L'E'pave, ofertado pela federação, e o troféu presidencial, representado pelas peças náuticas. A prova seria realizada no novíssimo Pavilhão de Regatas, de telhado azul e detalhes dourados.


Pavilhão de Regatas


Vasco conquista seu primeiro título e se torna o campeão da inauguração do Pavilhão de Regatas

   A regata estava marcada para 27 de agosto, no dia seguinte se daria a mudança do clube para a Rua Luiz de Vasconcellos. No entanto, o famoso Pavilhão de Regatas, mandado construir pela Prefeitura do Distrito Federal para os clubes náuticos, ainda não havia sido completado. A Federação Brazileira das Sociedades de Remo, apoiada por todos os clubes federados, remarcou a competição para 24 de setembro. O Vasco ainda teria um mês para treinar sua guarnição na Procelária.

   No dia designado, compareceram as mais elevadas autoridades da República. Era um evento social da maior importância, a ponto de rivalizar com o turfe. O Vasco mandou alugar uma barca que saiu às 11 horas do Cais Pharoux, levando consigo remadores e associados para melhor assistência da prova.

   Às 15:10h era dada a largada do 8.º páreo do campeonato. A disputa foi ferrenha, e a partir da baliza 9 a Procelária despontou à frente do barco segundo colocado do Boqueirão do Passeio, sob os aplausos do público presente à Enseada de Botafogo. A guarnição gloriosa correu e venceu com o tempo de 7 minutos e 10 segundos!


Ao fundo , o momento em que a Procelária cruza a linha de chegada
Revista O Malho (Acervo Biblioteca Nacional)


   O Vasco conquistava assim seu primeiro título de campeão da cidade, o primeiro do recém-inaugurado Pavilhão de Regatas!


Revista da Semana (Acervo Biblioteca Nacional) 


   Foram heróis dessa epopeia vascaína: Lucindo Saroldi (patrão); Antonio Taveira (voga); Albano da Costa Fonseca (sota-voga); Manuel da Silva Rabello (contra-voga); Raimundo Martins (1.º centro); João Jório (2.º centro); Manuel Rezende (contra-proa); Joaquim Duarte Guedes (sota-proa); João Saliture (proa).

   Cândido de Araujo foi reeleito presidente do Vasco para o ano de 1905 e 1906; a guarnição de seniors venceu seu páreo com a mesma Procelária; e o Vasco viria a conquistar o bicampeonato em 1906 com a nova guarnição de veteranos da Procelária.


L'E'pave - Quadro de Honra dos Campeões de 1905 - Troféu oferecido pelo Presidente Rodrigues Alves

*Centro de Memória do Club de Regatas Vasco da Gama

domingo, 6 de setembro de 2015

O PRIMEIRO UNIFORME DO VASCO


Há 117 anos os vascaínos criavam o primitivo uniforme do clube!


   Qual vascaíno nunca debateu a respeito da preferência entre a utilização da camisa preta ou da camisa branca nos jogos de futebol? Essa é uma discussão quase que inata aos torcedores de futebol do Gigante da Colina, podendo influenciar até mesmo àqueles que se dizem indiferentes a essa questão.

   Os defensores de cada opção procuram legitimar a sua preferência através da história, lançando mão das mais variadas justificativas, como, por exemplo, fazendo referência a jogos e conquistas inesquecíveis em que tal uniforme foi usado em campo.

   O uniforme de um clube é mais do que simples vestimenta para eventos sociais ou competições esportivas, soma-se a isso os demais símbolos como flâmula, escudo e bandeira.

   De fato, as cores e os símbolos representam os ideais e os princípios de uma instituição. O mês de setembro é um período bastante significativo para a escolha dos primeiros símbolos do Vasco. Por isso, viemos resgatar a criação do primeiro desses símbolos, de tão pouco conhecimento dos vascaínos.

   No dia de hoje, 06 de setembro de 2015, faz 117 anos que os fundadores definiram em reunião de diretoria o que a princípio seria o primeiro uniforme do Vasco. Por proposta do então presidente-fundador, Sr. Francisco Gonçalves Couto Junior, o Vasco teve aprovado por unanimidade as suas primeiras vestimentas. Assim nos diz a documentação histórica:

"Por proposta do snr. Presidente o uniforme que se deveria adoptar no Club de Ragatas Vasco da Gama foi um debate por unanimidade de votos approvado o seguinte uniforme:
Bonet de casimira preta com pompão branco e preto: Camiza preta com golla e larga faxa branca tendo no peito metade sobre o branco e metade sobre o preto a Cruz de Malta encarnada: Cinto branco; Calção de casimira preta; Meias pretas: Sapatos brancos, sendo o uso dos sapatos e meias somente obrigatorio por occasião de regatas" (Atas da Diretoria, 06 de setembro de 1898).

   Conforme podemos perceber, no primeiro modelo de uniforme a camisa possuía uma “larga faxa branca” (sic), que estava na posição horizontal. A faixa viria a mudar de posição apenas no ano seguinte, em decorrência da primeira grande cisão do clube, passando a ser “a tiracolo”, ou seja, em posição transversal. Vide: http://www.vasco.com.br/site/noticia/detalhe/11061/os-116-anos-da-criacao-do-principal-uniforme-do-vasco.

   É de se destacar a intenção primeira com o símbolo do clube, a cruz entre o preto da camisa e o branco da faixa, o que viria a ser eventualmente retificado, pois no mês de novembro de 1898, em ofício de filiação à União de Regatas Fluminense, a cruz encarnada foi designada em posição central na faixa.

   Na falta de fotografias de época, apresentamos abaixo duas imagens retocadas digitalmente que simulam os uniformes da fundação, com a cruz metade sobre o preto e metade sobre o branco; e com a cruz dentro da faixa larga:

                                                                                                                                                               

(1) Uniforme de 6 de setembro                                                  (2)Uniforme da filiação à União




Imutável o nome e as cores do Clube

   Em reunião da Assembleia Geral no dia 10 de setembro de 1898, o sócio-fundador José Lopes de Freitas colocou em votação e foi aprovado por unanimidade de votos a condição de imutabilidade do nome e das cores do Vasco: 

"Do mesmo Snr. Por unanimidade e com aplauso geral:
O Club de Regatas Vasco da Gama por motivo nenhum mudaria o Nome e as Côres que adoptar" (Ata da Assembleia Geral, 10 de setembro de 1898)


   Dias depois dessa reunião, a flâmula, que geralmente ficava na popa dos barcos, foi aprovada. Ela era assim constituída: 

[...] da flamula para uso das embarcações do Club que foi resolvida a seguinte; de seda preta com uma lista branca ao centro com uma cruz encarnada tendo a flamula 50x10 c/m de comprimento por unanimidade” (Atas da Diretoria, 23 de setembro de 1898).


   Dessa forma, os vascaínos pouco a pouco iam construindo o clube, moldando uma instituição que nasceu para o congraçamento entre portugueses e brasileiros.

*Texto e iconografia da equipe do Centro de Memória do Club de Regatas Vasco da Gama

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O NOSSO VASCO


Depoimento de José Lopes de Freitas (José da Praia) em 1946 - Um dos primeiros idealizadores e fundador do Club de Regatas Vasco da Gama




"Outra estrada se abre para marcha sempre triunfal do Vasco.

O grêmio da Cruz de Malta marcha e cresce sempre, rumo aos seus destinos gloriosos.

Depois de um "campinho" alagado, de um quadro modestíssimo, um campo grande e próprio e um onze que o faz campeão em terra e a deslumbrar a cidade, o Brasil e América do Sul: o mais amplo e belo Estádio até aí construído no país, a causar admiração a nacionais e estrangeiros, seu, muito seu, sem auxílios de ninguém.

Tudo que é Vasco é dos vascaínos! E bem razão tem eles quando cheios de orgulho dizem: "O nosso Vasco".

É este Vasco que todo o Brasil esportivo festeja hoje (21/08/1946), do seu quadragésimo oitavo aniversário. É este Vasco cuja história precisa ser escrita porque a sua vida é uma grande lição para a vida esportiva nacional."

quinta-feira, 16 de julho de 2015

OS 116 ANOS DA CRIAÇÃO DO PRINCIPAL UNIFORME DO VASCO


Pesquisa realizada pelo Centro de Memória do C. R. Vasco da Gama resgata mais uma marca histórica



Guarnição da canoa a quatro remos Vênus, em 1901


   No ano em que comemoramos o Centenário da Institucionalização do Futebol no Club de Regatas Vasco da Gama (1915-2015), cabe-nos fazer referência a outro fato histórico da gloriosa trajetória deste Gigante.

   No dia 16 de julho de 1899, reunidos em Assembleia Geral na sede da Travessa do Maia, os dirigentes vascaínos aprovaram, dentre outras coisas, a implantação de um novo primeiro uniforme do clube. Essa mudança trouxe consigo uma inovação na camisa do Vasco, a instituição passava a adotar a “lista branca a tiracolo”, ou, em termos contemporâneos, a famosa faixa transversal na cor branca.




   É do conhecimento de poucos o fato que, no contexto de seu primeiro ano de fundação (1898), o Vasco adotou um uniforme com camisa negra e faixa em posição horizontal, como nos esclarecem as fontes do clube. Sobre esta questão, traremos novas informações em momento oportuno.

   Em junho de 1899 ocorreu uma cisão que marcou profundamente a instituição. O principal motivo do conflito estava relacionado à mudança do local da sede, então na Ilha das Moças, por não fornecer as condições necessárias para o bom desenvolvimento das atividades do esporte náutico. Uma parte dos dirigentes vascaínos defendia a instalação no bairro de Botafogo, enquanto a maioria, constituída de comerciários residentes no Centro da cidade, defendeu a mudança da sede para o Passeio Público, onde já estavam localizados outros clubes de regatas.

   Após a decisão desfavorável, o presidente-fundador Francisco Couto Junior e parte de sua diretoria renunciaram aos seus cargos e abandonaram o clube. Os dissidentes levaram consigo grande parte dos equipamentos das práticas esportivas e todos os uniformes, exceto a Vaidosa – baleeira a quatro remos. Diante deste panorama desolador, os vascaínos que permaneceram fiéis à instituição, uniram-se no sentido de tomar decisões urgentes em prol da sobrevivência do clube, cuja situação poderia culminar na inviabilidade de suas atividades.

   Desta forma, além de eleger como presidente interino João Candido de Freitas, uma das propostas promovidas pelos vascaínos remanescentes, tão logo ocorreu a transferência de sede, foi adoção de um novo primeiro uniforme, cujo modelo atravessou o tempo e permanece até os dias atuais:

   “Passou-se em seguida á approvação do novo 1.º uniforme do Club apresentado pela meza, e que após varias considerações, foi approvado o seguinte; Kepi: preto com indeleveis guarnissões brancas, Camiza, preta com larga lista branca a tiracolo, tendo o peito a Cruz de Malta em encarnado, Cinto branco, Calção branco, Meias pretas e Sapatos brancos" (Ata da Assembleia Geral do Club de Regatas Vasco da Gama, 16 de julho de 1899) *grafia original da época.




   A despeito de debates infrutíferos se este ou aquele clube usou primeiro a “faixa transversal” ou, pior, de que o futebol do Vasco se inspirou em clubes estrangeiros quando deixou de usar as “Camisas Negras” e adotou o uniforme do remo, esclarecemos e ressaltamos que desde a sua fundação, o Vasco sempre utilizou uma faixa branca em seu uniforme.




   Embora possa parecer apenas um detalhe, a adoção deste “novo” primeiro uniforme – com sua faixa branca a tiracolo – simboliza a luta dos pioneiros vascaínos pela própria sobrevivência do Club de Regatas Vasco da Gama e a esperança destes em tempos de glórias no porvir. Assim, torna-se imprescindível lembrarmos que neste 16 de julho de 2015, comemoramos os 116 anos de sua adoção.


Alfredo Ruas – Atleta do Vasco, envergando o seu uniforme em 1913


Pesquisa, texto e imagens do Centro de Memória do Club de Regatas Vasco da Gama

Nossos agradecimentos a Carlos Ruas que gentilmente cedeu a imagem digital da fotografia de seu pai, Alfredo Ruas, ao Centro de Memória

domingo, 14 de junho de 2015

O VASCO DE ONTEM É O VASCO DE HOJE

"O meu sentimento de vascaíno não está na razão direta das vitórias do futebol" (Antonio Mendes - sócio fundador do Vasco)


Antonio Mendes - Sócio Fundador do Vasco


 Há determinadas horas em que o amigo do passado é o bálsamo ou o estimulante necessário para se compreender o porquê nos tornamos vascaínos. Este é um deles.

 Revelaremos a memória vascaína de um dos pais fundadores do nosso clube em entrevista concedida ao Jornal dos Sports, publicada a 7 de outubro de 1942, quando o clube não passava por seu melhor momento. Confira:

 "Vamos dar a palavra ao senhor Antonio Mendes, sócio fundador do Vasco da Gama.

 Foi um dos heróis que ajudaram a construir a célebre ponte da Ilha das Moças, que representou para o esporte o mesmo feito que Paulo de Frontin, trazendo em seis dias água para a Capital da República.


1898/1899 - Localizada na enseada de São Diogo, defronte ao Hospital da Gamboa -
Até ela foi construída a ponte de tábuas de cerca de cem metros desde a esquina
 da rua Cel. Pedro Alves com rua Santo Cristo (Autor: sócio fundador Leonel Borba)


Planta contendo o litoral original (tracejado azul) e o cais projetado -
a seta aponta o local aproximado da sede da Ilha das Moças (tracejado preto),
local já aterrado desde 1893 com entulho do desmonte do Morro do Senado -
A sede ficava em linha, entre o Hospital da Gamboa e a avenida Pedro II
 (acervo Arquivo Nacional)






 Foi Antonio Mendes quem ajudou a construir a rampa da Travessa Maia, que o mar destruiu horas depois da sua conclusão. Durante quase meio século assistiu à evolução do Vasco da Gama, Conheceu o esporte como recreio e no seu sentido elevado e patriótico.  Assistiu às suas mais variadas metamorfoses, desde o "Mercado das Vaidades" à Escola dos Políticos e desta última ao football profissional, para depois chegar aos nossos dias, onde as competições de mando e as lutas pela supremacia clubista empolgam mais os desportistas que o preparo físico da mocidade, única razão da existência dos grêmios atléticos.


1899 - O primeiro barracão garagem à esquerda foi a segunda
sede do Vasco - Travessa do Maia, atual Praça Mahatma Gandhi


 Não vamos falar aqui do lampião de querosene, do remo de faia ou das pesadas baleeiras de nossos avoengos.

 O passado traz recordações aos velhos e exemplos aos novos. Mas o "Passado" é quase sempre representado por um velho de casaca poeirenta, com longas barbas brancas, uma espécie de Papai Noel, de quem as crianças só querem brinquedos, não desejando vê-lo para não correrem assustadas...

 A voz do "Passado" é sempre a voz da experiência, soturna e cáva na pronúncia, mas sincera e reta nos conceitos.

 Antonio Mendes, o vascaíno do passado, vai falar sobre o esporte do presente, ou para dizer melhor, sobre o Vasco dos nossos dias, enquadrando-o na paisagem esportiva do momento.

 Ei-lo falando aos leitores do JORNAL DOS SPORTS:
 - O clube representa para os desportistas uma espécie de mealheiro onde depositamos diariamente uma pequena moeda. Como nunca retiramos desse pequeno cofre o que lá depositamos, quanto mais anos se passam, mais se avoluma a importância. Os que como eu, passaram pelo Vasco de ontem e vivem o de hoje, dedicando diariamente alguns momentos ao nosso clube, guardam no mealheiro da recordação as mais gratas lembranças, que nasceram na juventude e nos acompanharam através dos anos.


O VASCO DE ONTEM É O MESMO VASCO DE HOJE

 Com a palavra o Sr. Antonio Mendes:
 - Não há diferença entre os vascaínos de ontem e os de hoje. O que se nota é uma transformação natural de ambiente. A evolução transformou o clube e os homens. Os problemas de hoje são mais difíceis. Administrar um clube de 500 ou 600 associados é muito mais fácil que estar à frente de uma organização com mais de dez mil, um patrimônio considerável e uma série de casos a resolver. A evolução do Vasco foi excessivamente rápida. Em pouco tempo passou de pobre a milionário. Essa transformação rápida, dependia, como é natural, de uma organização. Esta só veio mais tarde. Mesmo porque, quando se constrói uma casa, os detalhes e o mobiliário ficam sempre para o fim. Hoje estamos perto da perfeição em matéria de organização. Não invejamos ninguém.


SUBIMOS PELO NOSSO ESFORÇO

 Prossegue o Sr. Antonio Mendes:
 - Os que acompanham a trajetória do Vasco, sócios ou não do clube, devem reconhecer o nosso esforço. Nunca fomos bafejados pela sorte, ou auxílio alheio. No football, o Vasco é o único clube que iniciou a sua carreira na última divisão e lutou durante sete anos para ascender à serie de honra. Em 1916, pertencemos à 3.ª divisão; de 1917 a 1920, jogamos na segunda divisão; de 1921 a 1922, disputamos a série B da primeira divisão; em 1923 ascendemos a divisão de honra.


O MEU SENTIMENTO DE VASCAÍNO NÃO ESTÁ NA RAZÃO DIRETA DAS VITÓRIAS DO FOOTBALL

 Ainda com a palavra o senhor Antonio Mendes:
 - Como vascaíno, regozijo-me com as vitórias do Vasco em qualquer setor esportivo. No entanto, as derrotas nunca me abatem, quando os nossos adversários conseguem triunfos nítidos. Nunca condicionei à minha situação de vascaíno sincero às vitórias ou às derrotas esportivas.

 Os clubes passam as suas fases boas e más, principalmente no que concerne aos esportes. Um clube como o Vasco pode modificar de um instante para outro o seu panorama esportivo. Devemos confiar nos nossos dirigentes, que, mais do que nós, sofrem as consequências da atual situação do quadro de football profissional.

 A diretoria do Vasco é composta de autênticos vascaínos e vem cumprindo com regularidade e zelo a grande missão que lhe confiamos.

 E terminando:
 - É isto o que pode dizer um velho vascaíno, que admirou a administração de Pedro Novaes e jamais regateará aplausos ao Sr. Aranha, um dirigente que procura orientar o clube dentro das normas traçadas pelos seus fundadores."


---
Vascainidades:

Histórias do Charuto

"Lá pelos idos de novembro de 1898, acabara o Vasco de se mudar para sua nova sede na Ilha das Moças, junto à Praia Formosa, constituída de um amplo barracão chalet.
Para ligar a ilha à Praia Formosa houve necessidade de construir uma ponte de madeira, que foi feita pelos sócios. Quando a ponte já estava concluída, os policiais rondantes costumavam amarrar ali os cavalos no corrimão. Como o terreno era lamacento, os cavalos obstruíam a pequena passagem seca do local. Num domingo de janeiro de 1899, cheio de sol, o Antonio Mendes(*) apareceu na ilha das Moças de terno e sapatos brancos. Na hora da saída acendeu um charuto e ao chegar ao fim da ponte encontrou um cavalo amarrado. Como não podia passar sem enlamear os sapatos, desamarrou o cavalo e enfiou-lhe o charuto aceso no ouvido. O cavalo saiu numa disparada louca. O policial que de longe assistia aquela cena, vendo a sua montada correndo e relinchando, dirigiu-se ao Antonio Mendes e perguntou-lhe:
- O que fez você ao cavalo?
- Eu, nada "seu" guarda.
- Como é que o animal saiu feito doido? retrucou o policial.
- Coitado! É um animal de sentimento!... Comuniquei-lhe o falecimento da genitora e ele saiu louco. Deve ter ido à casa do Armando Tavares de Oliveira(*) tratar do enterro..."

Zé da Praia(*)

(*)Todos os 3 foram sócios fundadores do Vasco

domingo, 7 de junho de 2015

A EMBAIXADA VASCAÍNA AO VELHO MUNDO!


Há 84 anos, a equipe de futebol embarcava para a primeira turnée de um clube carioca à Europa


Sant'Anna, Fernando Giudice (do Fluminense F. C.), Mario Mattos, Carvalho Leite (do Botafogo F.C.), Jaguaré,
Tinoco, 84, Fausto, Molla e Bahianinho, todos devidamente uniformizados no momento do embarque
no Arlanza,  a 7 de junho de 1931 (Acervo: AlmanakdoVasco - Edição Digital: Memória Vascaína)



Pioneirismo Vascaíno

 Em 1931, a "Era de Ouro" do futebol amador já começava a dar mostras de que não duraria muito mais tempo entre os grandes clubes do Rio de Janeiro.

 O Vasco da Gama já era o maior clube do Brasil com seu magnífico Stadium; com uma equipe que conquistara o campeonato carioca 1929 e que pouco antes da excursão havia promovido a goleada histórica de 7 a 0 sobre o Flamengo; com poderosas guarnições e uma fantástica flotilha que o tornara o maior clube campeão de regatas da cidade; além de ser possuidor do maior quadro social dentre todos os demais.


Mario Mattos no 7 a 0 sobre o Flamengo
26 de abril de 1931


 Na Europa, o jornal espanhol Mundo Deportivo especulava ter o Vasco cerca de seis mil sócios e seu estádio capacidade para oitenta mil espectadores. Os números não eram estes, mas já transmitiam aos europeus a grandeza do "Nosso Vasco". Essa grandeza foi evidenciada de tal forma que a equipe que fez o périplo por Portugal e Espanha ganhou a revanche na segunda partida que jogou contra o já então poderoso Barcelona por 2 a 1.

 A turnée pela Europa, ou como se denominava à época, a Embaixada Vascaína, era um caminho natural que o clube comandado pelo grande presidente Raul Campos havia de perseguir.

  Na passagem desses 84 anos da incrível excursão, relembramos para a memória vascaína mais esse exemplo de pioneirismo e superação que é o nosso Club de Regatas Vasco da Gama.


Charge do jornal Dário da Noite


 A Preparação e o Embarque

 O clube sofreu vários percalços para a realização da empreitada. A falta de datas disponíveis entre a interrupção do campeonato carioca em junho e a realização do campeonato brasileiro de seleções estaduais entre agosto e setembro de 1931; o pedido de licença à AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos); e a cessão de jogadores do Fluminense (Fernando Giudice) e do Botafogo (Nilo e Carlos Leite) para participar da excursão como representantes da cidade, foram fatos relevantes para a viabilidade da excursão, como noticiava o jornal A Esquerda, no dia 30 de maio de 1931:

"A directoria do Vasco da Gama envida os melhores esforços no sentido de conciliar interesses que permittam o embarque do seu team para a Europa, ainda a 8 de junho, depois de jogo com o Bangú

A ida do Vasco da Gama á Europa

 Desde que o Vasco da Gama projectou levar a effeito uma excursão á Europa, com seu quadro principal de football reforçado de alguns elementos de destaque de conjuntos de outros clubs, começaram as pessôas interessadas pela sorte do football carioca a se impressionar com os effeitos da ausencia quasi certa desses excellentes footballers, no seleccionado que terá de defender as côres da cidade, no campeonato brasileiro.

 Marcada, agora, a partida da delegação vascaina, essa impressão transformou-se naturalmente em temor justificavel, ante o prejuizo fatal que acarretaria o desfalque da representação carioca.

 Chegou-se mesmo a indagar, como permittiriam as autoridades sportivas a realização dessa viagem do Vasco da Gama, nas condições apontadas?

 Certamente que os interesses da Associação Metropolitana não poderiam ser preteridos pelos de qualquer de seus filiados, por mais respeitaveis que fossem.

 Attendendo a essas circunstancias o Vasco da Gama traçou um progamma, que lhe permite estar de regresso a esta capital, ainda a tempo, dos players que vão integrando sua delegação poderem fazer parte do seleccionado carioca.

 Podemos, assim, ficar todos descançados, que a excursão do valoroso gremio da Cruz de Malta ao Velho Mundo não comprometterá a efficiência do quadro metropolitano, que terá de defender as côres da cidade no campeonato brasileiro de football."  (grafia original da época)


 A circunstância era a tal ponto adaptada que no dia do embarque no navio Arlanza, o Vasco ainda jogou e venceu o Bangu por 1 a 0, gol de Waldemar.


Vasco 1 x O Bangu - horas antes do embarque


 Formada a delegação no cais da Alfândega da Praça Mauá, contando inclusive com a presença do futuro presidente do Vasco, nosso saudoso historiador vascaíno Rochinha (José da Silva Rocha), este na curiosa função de enviado especial do jornal "A Noite", finalmente às 18 horas o Arlanza levantou âncora, zarpando com a primeira Embaixada Vascaína ao Velho Mundo!




sábado, 6 de junho de 2015

REVISITANDO A PRIMEIRA FOTO!


O primeiro registro fotojornalístico do C. R. Vasco da Gama, no último ano do século XIX, foi publicado com fotos invertidas



As primeiras imagens do Vasco, corrigidas


 Em 30 de novembro de 2012 tivemos oportunidade de resgatar para a memória vascaína o primeiro registro fotojornalístico do Club de Regatas Vasco da Gama, no último ano do século XIX, quando em 16 de setembro de 1900 os pioneiros vascaínos comemoram o 2.º aniversário do clube na então bucólica Ilha do Governador (clique aqui para conhecer).

 As fotos foram reproduzidas naquele artigo conforme publicadas originalmente, apresentando os uniformes com a faixa a tiracolo voltada para a direita, como ficou tradicionalmente lembrado na história. Ressaltamos, porém, que numa das fotos já haveria vascaíno que utilizava a faixa branca a tiracolo para o lado esquerdo do ombro.


A Revisão

 Recentemente, ao rever detalhes das mesmas fotografias, observamos algumas situações fora do conforme, como a posição dos broches e arranjos de flores nos vestidos das damas vascaínas; lenços nos paletós e grande parte das medalhas nos uniformes dos primeiros vascaínos, todos aparecendo do lado direito do peito, como abaixo indicados pelas setas em vermelho.


Imagens publicadas invertidas em 1900


 Como é sabido, tais arranjos são usados convencionalmente à esquerda do peito, o que nos fez concluir que houve inversão das imagens originais.

 De toda forma, em nossas pesquisas obtivemos mais fotografias da casa que localizava-se na Ponta do Quilombo (hoje Base dos Fuzileiros Navais), vista ao fundo de duas fotos dos primeiros vascaínos. Correlacionadas corretamente, demonstram perfeitamente a publicação invertida do primeiro registro fotográfico.


Fotos do sítio do Quilombo na Ilha do Governador


Atualmente é a casa do Comandante da Marinha
na Base dos Fuzileiros Navais na Ponta do Quilombo na Ilha do Governador




A Faixa do Lado Direito do Ombro

 Confirmada a inversão da "primeira foto", resta ainda um senão! Quem seria aquele único vascaíno uniformizado entre tantos, com sua faixa a tiracolo voltada para a direita do ombro?

 Aqui vamos adentrar o campo das hipóteses e suposições, relembrando que nos registros históricos nada é dito sobre essa faixa voltada para a direita.

 Temos entretanto algumas indicações que poderiam elucidar a questão.

 Primeira: é conhecida somente a fotografia que apresentamos com a faixa a tiracolo invertida para a direita,  sendo desconhecida qualquer outra dali por diante.


Vascaíno com a faixa a tiracolo à direita do ombro - 1900


 Segunda: a famosa gravura publicada pelo Jornal do Brasil em 1902, quando do trágico naufrágio da Vascaína, baleeira a doze remos, em que quatro de nossos valorosos remadores perderam suas vidas, mártires em prol do ideal altaneiro, num tempestuoso dia de mar revolto da Guanabara.


A tragédia da "Vascaina" - 1902


 Ali temos o desenho de um vascaíno em pé, de braços cruzados envergando orgulhosamente seu uniforme com a faixa a tiracolo para a direita do ombro, evidentemente baseado no primeiro registro fotojornalístico, uma vez que se desconhece qualquer outra foto, com faixa à direita, dali em diante.

 Na tragédia que se abateu sobre o então jovem "Vasco", veio a falecer seu sócio fundador, Luiz Ferreira de Carvalho, que então patronava a guarnição da Vascaína.




 E a terceira: a visão de simetria que os pioneiros tiveram do pavilhão vascaíno a partir da primeira cisão, quando nossa bandeira foi assim definida com o campo negro, faixa branca iniciada do alto da tralha (haste da bandeira), e a cruz encarnada ao centro, que a torna única, em dupla face, não se podendo falar em verso e anverso quando tremulando ao vento na direção que for!


A segunda bandeira vascaína



A Hipótese - O Patrão da Guarnição!

 Levando-se em conta tais considerações, a hipótese mais provável é de que o único vascaíno habilitado a utilizar-se do uniforme com a faixa invertida não seria outro senão o patrão da guarnição, como demonstra a imagem que retocamos digitalmente para exemplificar.




 Estando o patrão sentado em posição invertida em relação aos remadores, estaria com a faixa em simetria com os demais.

 Explica-se. Nas regatas realizadas na Enseada de Botafogo, as autoridades e o público em geral assistiam às provas a partir da murada que ali existia naquele tempo. A raia para disputa das provas era em posição perpendicular à referida murada, bem como a visão do público em relação às guarnições. 

 Assim, estaria esclarecida a origem da famosa camiseta negra com a faixa branca à direita.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A CAMPANHA DOS 10.000!

Unindo força e superação, vascaínos fazem a mais bem sucedida campanha de associação de todos os tempos para a construção do então maior estádio da América do Sul




   O recente sucesso da campanha de crowdfunding para restauração do ginásio do C. R. Vasco da Gama, representou o resgate de uma tradição cruz maltina de financiamento coletivo, que dentro de cada particularidade já era praticada desde a fundação do clube.

   A cada dificuldade, a cada necessidade, a cada objetivo traçado, estava presente o sócio e o torcedor vascaíno, independente de classe, chamado a participar da vida social do maior clube de expressão nacional no qual o preconceito e a intolerância não prosperam.

   Adquirido o terreno da Chacrinha do Imperador em março de 1925 e hasteado o pavilhão vascaíno ao final do pagamento das parcelas da compra e venda em 20 de dezembro do mesmo ano, passou o clube a focar no seu maior desafio até então inimaginado: financiar a construção do Stadium Vasco da Gama, o maior estádio da América do Sul!

   A arrecadação do capital inicial foi um retumbante sucesso, sob a liderança do presidente Raul da Silva Campos e do formidável Comendador Almeida Pinho (dono da Fundição Progresso), "A CAMPANHA DOS 10.000" fez com que vascaínos de expressão atingissem e superassem a meta inicial dos 10 mil consócios, cuja contribuição permitiu dar início à construção do estádio.

   Além disso, temos o registro histórico lançado no Livro de Ouro de associados, que contribuíram espontaneamente para a compra do terreno da Chacrinha, livro este depositado no Salão de Troféus do clube.

   Após o primeiro passo, o clube ainda foi mais longe, estendendo a campanha a todos os sócios e torcedores através do lançamento de debêntures ao mercado, autorizado pelo Ministério da Fazenda, no maior projeto financeiro já proporcionado por uma entidade esportiva, onde ao final, o C. R. Vasco da Gama pagou de volta ao seu investidor (sócios e torcedores) juros de mora de 9% ao ano, o que foi liquidado ao final dos anos 40 do século XX.

Anúncio publicado em 30 de abril de 1927

   Hoje, 21 de abril de 2015, aniversário de 88 anos da inauguração do Stadium Vasco da Gama, localizado no Complexo Poliesportivo de São Januário, vamos resgatar para a memória vascaína, — através do registro jornalístico e de anúncios em revistas de época, — a história de sucesso do maior clube representativo no Brasil!:

  "A Campanha dos 10.000

   O "manifesto", se assim podemos chamar, dirigido pelo Club de Regatas Vasco da Gama ao seu quadro social, ou melhor: a todos os vascainos residentes no paiz, interpreta, perfeitamente, a feliz iniciativa que vem de tomar os dirigentes do gremio da Cruz de Malta.

   Despensamo-nos, assim, de dizer, por superfluo que é, da signinifcação e da opportunidade das idéas de que vae resultar a realização da tarefa positivamente formidavel que pesa sobre os hombros dos que, no momento, dirigem o poderoso nucleo de Raul da Silva Campos.

   A "campanha dos 10.000" como se lhe convencionou chamar, vale a bem dizer, portanto, a installação do futuro stadium vascaino que será dentro em breve, construido como se sabe na grande area do terreno já adquirido pela directoria, no bairro de S. Christovão.

   Para isso, entretanto, mister se faz que os verdadeiros enthusiastas do club cruzmaltino, se congreguem, se irmanem, se colliguem, cooperando pela finalidade de todas as preocupações que no momento reflectem o indice da grande aspiração dos vascainos: a construcção de sua nova séde, de seu futuro portentoso stadium.

   A "campanha dos 10.000" caminha victoriosa. Da reunião de directoria realizada a 6 de janeiro passado á de 25 de fevereiro ultimo, 688 propostas de novos socios foram aceitas. Daquella ultima data, até hontem, mais de 395 socios foram propostos. Não é preciso dizer mais para positivar o exito formidavel da feliz iniciativa. A "campanha dos 10.000" caminha, assim, victoriosa, como victoriosa é a aspiração dos symphaticos enthusiastas do nucleo de Nelson e Negrito. Já se não pode duvidar que o stadium da brilhante agremiação seja, dentro de pouco tempo, uma realidade.

   E a prova nós a temos na expressão exacta dos algarismos que ha pouco citamos.

   A circular que a directoria do Vasco da Gama fez expedir aos socios do club está assim redigida:

   "Campanha dos 10.000 — Consocio.
   Todos os vascainos têm conhecimento de ter o Conselho Deliberativo autorisado a directoria a suspender a joia para a entrada de novos socios durante os proximos meses, por isso, ao lembrar-lhes esse facto, venho appellar para todos os que se interessam pelo progresso do Vasco que envidem todos os esforços no sentido de podermos attingir a cifra dos 10.000, numero este que não será difficil conseguir, bastando que cada associado proponha no minimo dois novos socios.
   A situação do Vasco, que ora se encontra no momento em que tem de pôr á prova o seu proprio valor e, portanto, o dos seus componentes, exige que alguma coisa se faça que demonstre de uma forma indiscutivel o que, tambem, materialmente, elle vale e representa.
   As obras que tomou o encargo de executar, que mais são impostas pela necessidade que tem de acudir ao preparo dos seus numerosos athletas que pela necessidade de fazer obras sumptuosas, obrigam a contrahir responsabilidades taes que só o esforço conjugado de todos os socios, póde superar e vencer.
   É, pois, sob a sciencia das considerações acima, que nos dirigimos ao digno consocio exortando-o a que collabore com a directoria do Vasco no trabalho afanoso de tornar este centro de desportos o mais completo, adequado e util, erigindo-o, assim, em pioneiro destemeroso da grande causa desportiva.
   Pelas gravuras que constam da presente pode o digno consocio avaliar das obras que se projectam cujo inicio já foi solemnisado com o hasteamento do nosso pavilhão no terreno adquirido e consequente nivelamento e preparo deste para receber os alicerces respectivos.
   Junto seguem duas propostas para que se signe completal-as com a indicação de egual numero de futuros vascainos.
   Agradecido, em nome da directoria sou__________
           De V. S. etc." (mandado publicar no jornal O Imparcial, de 4 de março de 1926)*




---
*grafia original da época