terça-feira, 21 de abril de 2015

A CAMPANHA DOS 10.000!

Unindo força e superação, vascaínos fazem a mais bem sucedida campanha de associação de todos os tempos para a construção do então maior estádio da América do Sul




   O recente sucesso da campanha de crowdfunding para restauração do ginásio do C. R. Vasco da Gama, representou o resgate de uma tradição cruz maltina de financiamento coletivo, que dentro de cada particularidade já era praticada desde a fundação do clube.

   A cada dificuldade, a cada necessidade, a cada objetivo traçado, estava presente o sócio e o torcedor vascaíno, independente de classe, chamado a participar da vida social do maior clube de expressão nacional no qual o preconceito e a intolerância não prosperam.

   Adquirido o terreno da Chacrinha do Imperador em março de 1925 e hasteado o pavilhão vascaíno ao final do pagamento das parcelas da compra e venda em 20 de dezembro do mesmo ano, passou o clube a focar no seu maior desafio até então inimaginado: financiar a construção do Stadium Vasco da Gama, o maior estádio da América do Sul!

   A arrecadação do capital inicial foi um retumbante sucesso, sob a liderança do presidente Raul da Silva Campos e do formidável Comendador Almeida Pinho (dono da Fundição Progresso), "A CAMPANHA DOS 10.000" fez com que vascaínos de expressão atingissem e superassem a meta inicial dos 10 mil consócios, cuja contribuição permitiu dar início à construção do estádio.

   Além disso, temos o registro histórico lançado no Livro de Ouro de associados, que contribuíram espontaneamente para a compra do terreno da Chacrinha, livro este depositado no Salão de Troféus do clube.

   Após o primeiro passo, o clube ainda foi mais longe, estendendo a campanha a todos os sócios e torcedores através do lançamento de debêntures ao mercado, autorizado pelo Ministério da Fazenda, no maior projeto financeiro já proporcionado por uma entidade esportiva, onde ao final, o C. R. Vasco da Gama pagou de volta ao seu investidor (sócios e torcedores) juros de mora de 9% ao ano, o que foi liquidado ao final dos anos 40 do século XX.

Anúncio publicado em 30 de abril de 1927

   Hoje, 21 de abril de 2015, aniversário de 88 anos da inauguração do Stadium Vasco da Gama, localizado no Complexo Poliesportivo de São Januário, vamos resgatar para a memória vascaína, — através do registro jornalístico e de anúncios em revistas de época, — a história de sucesso do maior clube representativo no Brasil!:

  "A Campanha dos 10.000

   O "manifesto", se assim podemos chamar, dirigido pelo Club de Regatas Vasco da Gama ao seu quadro social, ou melhor: a todos os vascainos residentes no paiz, interpreta, perfeitamente, a feliz iniciativa que vem de tomar os dirigentes do gremio da Cruz de Malta.

   Despensamo-nos, assim, de dizer, por superfluo que é, da signinifcação e da opportunidade das idéas de que vae resultar a realização da tarefa positivamente formidavel que pesa sobre os hombros dos que, no momento, dirigem o poderoso nucleo de Raul da Silva Campos.

   A "campanha dos 10.000" como se lhe convencionou chamar, vale a bem dizer, portanto, a installação do futuro stadium vascaino que será dentro em breve, construido como se sabe na grande area do terreno já adquirido pela directoria, no bairro de S. Christovão.

   Para isso, entretanto, mister se faz que os verdadeiros enthusiastas do club cruzmaltino, se congreguem, se irmanem, se colliguem, cooperando pela finalidade de todas as preocupações que no momento reflectem o indice da grande aspiração dos vascainos: a construcção de sua nova séde, de seu futuro portentoso stadium.

   A "campanha dos 10.000" caminha victoriosa. Da reunião de directoria realizada a 6 de janeiro passado á de 25 de fevereiro ultimo, 688 propostas de novos socios foram aceitas. Daquella ultima data, até hontem, mais de 395 socios foram propostos. Não é preciso dizer mais para positivar o exito formidavel da feliz iniciativa. A "campanha dos 10.000" caminha, assim, victoriosa, como victoriosa é a aspiração dos symphaticos enthusiastas do nucleo de Nelson e Negrito. Já se não pode duvidar que o stadium da brilhante agremiação seja, dentro de pouco tempo, uma realidade.

   E a prova nós a temos na expressão exacta dos algarismos que ha pouco citamos.

   A circular que a directoria do Vasco da Gama fez expedir aos socios do club está assim redigida:

   "Campanha dos 10.000 — Consocio.
   Todos os vascainos têm conhecimento de ter o Conselho Deliberativo autorisado a directoria a suspender a joia para a entrada de novos socios durante os proximos meses, por isso, ao lembrar-lhes esse facto, venho appellar para todos os que se interessam pelo progresso do Vasco que envidem todos os esforços no sentido de podermos attingir a cifra dos 10.000, numero este que não será difficil conseguir, bastando que cada associado proponha no minimo dois novos socios.
   A situação do Vasco, que ora se encontra no momento em que tem de pôr á prova o seu proprio valor e, portanto, o dos seus componentes, exige que alguma coisa se faça que demonstre de uma forma indiscutivel o que, tambem, materialmente, elle vale e representa.
   As obras que tomou o encargo de executar, que mais são impostas pela necessidade que tem de acudir ao preparo dos seus numerosos athletas que pela necessidade de fazer obras sumptuosas, obrigam a contrahir responsabilidades taes que só o esforço conjugado de todos os socios, póde superar e vencer.
   É, pois, sob a sciencia das considerações acima, que nos dirigimos ao digno consocio exortando-o a que collabore com a directoria do Vasco no trabalho afanoso de tornar este centro de desportos o mais completo, adequado e util, erigindo-o, assim, em pioneiro destemeroso da grande causa desportiva.
   Pelas gravuras que constam da presente pode o digno consocio avaliar das obras que se projectam cujo inicio já foi solemnisado com o hasteamento do nosso pavilhão no terreno adquirido e consequente nivelamento e preparo deste para receber os alicerces respectivos.
   Junto seguem duas propostas para que se signe completal-as com a indicação de egual numero de futuros vascainos.
   Agradecido, em nome da directoria sou__________
           De V. S. etc." (mandado publicar no jornal O Imparcial, de 4 de março de 1926)*




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*grafia original da época

quinta-feira, 2 de abril de 2015

O PAVILHÃO VASCAÍNO EM SÃO JANUÁRIO

A primeira cerimônia de hasteamento antes da construção do Stadium Vasco da Gama




   A solenidade se deu a 20 de dezembro de 1925, foi concorridíssima e representou a tomada de posse do solo vascaíno, marcando mais uma etapa gloriosa para o Club de Regatas Vasco da Gama.

   No mês de março daquele ano, o terreno de 60.000 metros quadrados da Chacrinha do Imperador foi adquirido da Sociedade Anonyma Lameiro, tendo representado o club o seu presidente, Comendador Almeida Pinho, dono da Fundição Progresso, e por seu tesoureiro, Manoel Joaquim Pereira Ramos, avô do atual vice-presidente do Departamento de Esportes Aquáticos, Walter Ramos.

   A entrada para o terreno da chacrinha se dava no portão que havia ao final da rua Bonfim, na esquina à esquerda da rua São Januário, vez que naquele tempo inexistia a rua Francisco Palheta, cuja área foi posteriormente cedida pelo Vasco para a sua abertura.



   Como registro definitivo dessa conquista na memória vascaína, vamos transcrever a reportagem do jornal O Imparcial que assim descreveu o histórico evento, demonstrando assim a capacidade de superação e pujança do "Nosso Vasco":


"O FUTURO STADIUM DO VASCO DA GAMA

A solemnidade do hasteamento do pavilhão social

   Conforme estava marcado, ante-hontem pela manhã, realizou-se com grande brilhantismo, a solemnidade do primeiro hasteamento do pavilhão vascaino, nos terrenos em S. Januario, onde o Club de Regatas Vasco da Gama vae construir o seu stadium.

   O local em que se construirá a grande praça de sports do gremio da Cruz da Malta, na juncção das ruas S. Januario, Abilio, Bomfim e Alegria. Delle descortina-se uma bôa parte da bahia de Guanabara, tal a sua elevação; é muito ventilado e agradavel. Comporta uma praça de sports com as dimensões maximas e as maiores acommodações, com campo para football, athletismo, volley-ball, basket-ball, ring de box, curts de tennis, stand de tiro, tudo, emfim, que constitue o mais amplo projecto da cidade.

   Para marcar o inicio das obras foi que a comissão pró-stadium reuniu socios, convidados e jornalistas, dando inicio ao grande acontecimento.

   Tinha-se, no momento, a impressão de que se estava em pleno coração vascaino. Tudo era sincero e unido, naquelle grupo incalculável de enthusiastas, adeptos do club, quando o Sr. Annibal Peixoto, secretario da commissão, iniciando a inauguração, convidou o Dr. Antunes de Figueiredo, presidente da Federação de Remo para elevar o glorioso pavilhão no grande mastro collocado no centro do terreno.

   O hasteamento da bandeira cruz-maltina, foi feita no meio de grande salva de palmas e intensa alegria dos dois mil e tantos vascainos presentes.

   Ouviu-se, depois o antigo vascaino José da Silva Rocha, em oração brilhante.

   Terminado o acto, foi servido um farto lunch. O conhecido architecto Morales de los Rios, annunciou haver terminado as marcações do stadium e bem assim da praça "Vasco da Gama" e ruas Raul Campos e Manoel Ferreira Ramos. O Sr. Annibal Peixoto falou a seguir, e em nome da imprensa, falou o nosso colega de redacção Adaucto de Assis, director do "Mundo Desportivo".

   Ouviu-se a seguir o Dr. Antunes de Figueiredo, falando ainda os Srs. José da Silva Rocha, Othelo de Souza, em nome da directoria e o Sr. Gustavo de Medeiros Pontes, em nome dos athlestas do club; Cansado Conde, autor do projecto, trocando-se brindes e saudações, entre os quaes um ao Dr. Oscar Costa, presidente da Confederação Brasileira de Desportos.

   Assim terminou a solemnidade de ante-ontem, que marcou o inicio de uma nova éra para o glorioso club da colonia lusitana.

   Nós, que acompanhamos com interesse o desenvolvimento sportivo no paiz, fazemos votos pelo bom curso desse emprehendimento que não beneficia somente ao C. R. Vasco da Gama e seus defensores, mas ao Rio, aos sports em geral, ao Brasil inteiro." - O Imparcial, 22 de dezembro de 1925  *(grafia original da época)

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Vascainidades

(1) O Paiz - edição de segunda-feira, 2 e terça-feira, 3 de março de 1925:

O STADIUM VASCO DA GAMA 

Em escriptura lavrada no tabelião do 18.º officio, livro proprio, n. 83, folhas 89 verso, e assignada pelos senhores Antonio de Almeida Pinho, presidente, e Manoel Joaquim Pereira Ramos, thesoureiro, o Club de Regatas Vasco da Gama, e representante da S. A. Lameiro, adquiriu este club a area de 60.000 metros dessa empreza, no bairro de S. Christivão.

O referido terreno dá para as ruas Bomfim, Abilio e Ricardo Machado, com quatro linhas de bondes (S. Januario, S. Luiz Durão, Alegria e Cajú.)

Nesse local o Vasco da Gama vai construir o seu stadium, com capacidade para 80.000 espectadores, constando de campo de football, campo de treino (bate bola), courts de tennis, volley-ball e baslet-ball, campos de saltos em altura e distancia, lançamento de disco e dardo e outros jogos modernos, e pista para corrida a pé.

O projecto dessa obra é do engenheiro Trindade de Mello.

(2) No século XIX o terreno da chacrinha era conhecido como "Chácara do Bastos" (J. Cruvello Cavalcanti - Nova Numeração dos Prédios da Cidade do Rio de Janeiro - 1879)

(3) Segundo José Lopes de Freitas, o José da Praia, quinto idealizador e fundador do C. R. Vasco da Gama, nos primórdios, os sócios irmanados chamavam o clube de "O Nosso Vasco".